CIÊNCIA. DIMENSÃO OBJETIVA.
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domingo, 20 de outubro de 2024
A Hermenêutica Filosófica, enquanto disciplina para aquisição de conhecimentos, metodologias a implementar para o seu estudo, que requer profunda reflexão, exige um esforço suplementar, por razões de dificuldades interpretativas dos textos que se apresentam neste domínio, considerada a terminologia filosófica muito específica, transcendental e, quantas vezes, ambígua alguns intérpretes de grande parte das obras.
Uma reflexão, ou mesmo um resumo, sobre o tema como é o da “Função do Dogma na Investigação Científica”, exige, no mínimo, uma capacidade acrescida de esforço intelectual, ao nível da interpretação hermenêutico-científica sendo, por isso mesmo, compreensível, o recurso a um certo ecletismo, uma colagem, a mais positiva possível, ao autor de referência (Thomas Samuel KUHN, 1922-1996) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_Kuhn).
A tentativa de apresentação crítica na perspetiva hermenêutica, seguramente, integrará a presente reflexão, com todos os riscos daí decorrentes.
Entre as várias caraterísticas do científico, uma delas é ser objetivo, ter um espírito aberto, embora o cientista, em determinadas circunstâncias, seja uma pessoa relativamente fechada, porque ele tem um projeto próprio, quantas vezes individual e, os resultados que aguarda da sua investigação, deseja-os conforme o seu modelo.
Os preconceitos, as reações negativas, os dogmas e as interpretações, relativamente aos factos científicos, surgem em toda a parte, quer a partir das convicções profundas dos seus autores, quer mesmo através da opinião pública generalizada, veiculada pelos poderosos “mass media”, por vezes com tal resistência ao avanço científico, que tais atitudes mais parecem a regra do que a exceção, todavia, as crenças fortes que precedem qualquer investigação são, frequentemente, pré-condições para o sucesso das ciências.
E assim se vai criando: por um lado, uma certa dogmatização das ciências já feitas e que assenta, fundamentalmente, no preconceito e na resistência às inovações; por outro lado, uma adesão que, afinal, é imprescindível a todo o ato indagador, na medida em que ela permite, ao investigador, detetar os focos de dificuldades nos atos inovadores, possibilitando-lhe, assim, contornar e vencer fracassos prévios, num projeto científico. No fundo, a adesão dogmática é o instrumento que faz das ciências uma atividade humana, profundamente revolucionária.
A educação científica tem vindo a ser muito acompanhada por manuais escolares, que não permitem ao estudante objetivar-se, perante o problema concreto científico, e orientar um projeto de investigação atualizado e corretamente adequado ao facto investigado, muito embora, no campo das ciências sociais, tal uso não seja nefasto, porquanto colocam o aluno universitário perante várias soluções, para uma mesma questão, e haja um certo consenso quanto às matérias que o estudante deve saber com rigor, sem entrar na combinação eclética de originais de investigação.
Ainda que na falta de manuais para esta ou aquela ciência, o aluno depara-se com formulações paradigmáticas que, pré-estabelecidas há muito tempo, funcionam como arquétipos, que ele procura aplicar no laboratório ou na elaboração da sua resposta académica e, assim, os paradigmas orientam todo um esquema de desenvolvimento científico, constituem uma aquisição, embora tardia, a que se chega no processo evolutivo de grande parte das ciências.
Com efeito, o paradigma é um resultado científico fundamental, que engloba uma teoria e aplicações. O resultado conclusivo do paradigma é aberto, no entanto não admite quaisquer outras investigações.
É, ainda, um resultado aceite e recebido por um grupo que não lhe oferece oposição, nem alternativas.
Muitos jovens cientistas aderem a uma forma especial de analisar a natureza, a partir de um paradigma, porque este aponta-lhes as entidades que povoam o universo e o comportamento dessa mesma população, informando-os das questões que podem ser devidamente postas, e das técnicas que devem aplicar na busca das respostas adequadas.
Há muitos campos onde o paradigma pode funcionar e, no âmbito da natureza, o seu ajustamento àqueles pode ocupar os melhores talentos científicos duma geração. Também no campo das ciências físico-químicas, grande parte dos problemas dependiam de paradigmas, ainda antes destes aparecerem, mas que após a sua implantação, absorviam aqueles, pela resolução paradigmática.
Na investigação normal, o científico não pretende desvendar o desconhecido, mas obter o conhecido, ele luta para conseguir esse resultado, num esforço em que a solução final é já conhecida, de tal forma que o paradigma que ele adquiriu, por força de uma preparação prévia, fornece-lhe as regras do jogo, descreve as peças e aponta o objetivo a alcançar, devendo ele preocupar-se em manipular aquelas, de forma a não falhar.
As regras paradigmáticas não podem ser postas em causa, porque elas são parte integrante do problema a resolver, pelo que, o praticante da “ciência madura” pressupõe a adesão profunda a um paradigma, avançando a ciência, precisamente porque tal adesão não permite o abandono do indivíduo ou grupo profissional, o que se traduz, finalmente, na produção de uma solução, e daí, também, a resistência dos cientistas à mudança de paradigmas.
O cientista necessita da indicação de onde procurar, como fazê-lo e porque procurar esse algo que é, precisamente, o paradigma que lhe foi fornecido pela sua educação científica, no qual acredita e confia, lutando para concretizar o conhecido, levando-o à conceção de diversas versões da teoria, o que consegue pelo ajustamento de paradigmas embora, em última análise, bastante incompletamente, porque se a atividade normal de solucionar “puzzles” tivesse sempre êxito, o desenvolvimento da ciência não podia conduzir a qualquer tipo de inovação fundamental.
Um segundo aspeto é que na ciência normal, a investigação de base paradigmática traz vantagem, esta verifica-se na medida em que a partir de sucessivos fracassos, o cientista pode alterar as regras com que tenta fazer o ajustamento do paradigma à natureza e, simultaneamente, reconhecer e isolar uma anomalia, o que está na base de descobertas de novos tipos de fenómenos, por conseguinte, das inovações fundamentais da teoria científica.
“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
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Venade/Caminha – Portugal, 2024
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Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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