CULTURA PORTUGUESA VERSUS CULTURA FRANCESA
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sábado, 11 de novembro de 2023
A mulher e o homem português têm que, face aos poderosos meios científicos e técnicos ao seu alcance, assumir a sua cultura, com tudo o que ela comporta, sem vergonhas, nem complexos, retirar do esquecimento as suas seculares tradições, recapitular o mundo antigo, antecipar para o futuro o classicismo greco-romano, do qual, e de resto, nasceram valores inestimáveis, nomeadamente: a Honra, o Respeito, o Humanismo, o Direito, a Justiça, a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, entre muitos outros, hoje tão ignorados, ou ridicularizados, ou pelo menos, não assumidos.
Neste caso, todos aqueles grandes princípios, valores e sentimentos que, o Cristianismo, entre outras religiões, encerra, consubstanciados no Amor, na Verdade, na Solidariedade, na Lealdade, na relação antropológica do “Eu-Tu”, sob a Luz de um Ser Absoluto e Supremo, que de facto tudo fundamenta, é que dão esta dimensão inigualável da pessoa verdadeiramente humana.
Apesar do que fica escrito, a cultura portuguesa não está, ainda, completamente degradada, porque os cidadãos, inseridos numa civilização do tipo ocidental, conseguem, não obstante os vários movimentos supernacionalistas, manter uma certa referência ao passado, e uma distinção em reação a outros tipos civilizacionais e, como que “renascendo das cinzas”, mostrar aos parceiros internacionais um valioso património cultural, com base no sentimento emocional que carateriza a cultura portuguesa.
Esta cultura nacional é um processo de valorização do humano, mais de formação de caráter do que transmissão de saberes, dentro de um rigoroso conceito de humanismo, através da arte, da literatura, da filosofia e do vasto leque das outras ciências sociais e humanas. Naturalmente que noutras partes do globo, diria mesmo, que cada país tem a sua cultura própria. Num trabalho espetacular, citarei uma autora especializada nesta matéria. Assim:
«No meu ponto de vista o que define cada cultura é a sua história, tradição, costumes, memórias… e o que as torna únicas são as suas especificidades.
Em Portugal o que o torna único são o calor das suas gentes, a sua enogastronomia, o fado – “a saudade”, entre muitas outras especificidades.
A França o que a torna única são a sua indústria automóvel e outras, a moda, a vanguarda, os produtos de luxo, e também a sua enogastronomia, sem dúvida.
Se tivesse de caracterizar o povo português, diria que é um povo bem mais acolhedor que o Francês. O povo português é mais otimista e sonhador. Tem também uma enorme capacidade de adaptação a todas as coisas, ideias e seres, sem que isso implique perda de carácter. Foi esta faceta que lhe permitiu manter sempre a atitude de tolerância e que imprimiu à colonização portuguesa um carácter especial inconfundível: assimilação por adaptação.
O Português tem vivo sentimento da natureza e um fundo poético e contemplativo estático diferente do dos outros povos latinos. Apesar de ser caloroso, falta-lhe a exuberância e a alegria espontânea e ruidosa dos povos mediterrâneos. É mais inibido que os outros meridionais pelo grande sentimento do ridículo e medo da opinião alheia.
O povo português é também fortemente individualista, mas possui grande fundo de solidariedade humana, por exemplo quando sucedeu a derrocada na ilha da Madeira, muitas pessoas deram donativos para contribuírem a reconstrução/reparação das casas e outros locais destruídos.
Outro facto que caracteriza o povo português é o estado de alma sui generis que ele denomina de “saudade”. Esta saudade é um estranho sentimento de ansiedade, a ânsia permanente da distância, uma espécie de sentimento poético de fundo amoroso ou até religioso, que pode tomar a forma panteísta de dissolução na natureza, ou se compraz na repetição obstinada das mesmas imagens ou sentimentos.
O povo Português também é um povo de emigrantes, espalhados pelo mundo, considerados bons trabalhadores por todos. O povo português tem uma grande coragem e espírito de sacrifício como poucos.
O povo português tem também uma enorme capacidade de adaptação, pois adapta-se a climas, a profissões, a culturas, a idiomas e a gentes de maneira verdadeiramente excecional. O Português foi sempre poliglota. Já os nossos clássicos escreveram quase todos em mais de uma língua, e mesmo as pessoas de pouca instrução aprendem e sabem com frequência falar um idioma estrangeiro.
Mas a capacidade de adaptação é geral; podia ilustrar-se com inúmeros exemplos. O Português adapta-se a outro ambiente cultural tão bem que parece ter sido assimilado. Já o francês parece sempre francês em qualquer lado, dificilmente perde o seu sotaque, pronúncia e hábitos
A capacidade de adaptação, a simpatia humana e o temperamento apaixonado são a chave da colonização portuguesa. O Português assimilou adaptando-se.
Ao longo da História também se verifica o temperamento expansivo e dinâmico do Português. Nos tempos em que a atividade era a guerra, os Lusitanos foram a expressão mais acabada da luta permanente e sem tréguas, que se prolongou pela Idade Média nas lutas da Reconquista contra os Mouros, para se transformar, finalmente, nas viagens de descobrimentos e de colonização.
Outra constante da cultura portuguesa é o profundo sentimento humano, que assenta no temperamento afetivo, apaixonado e bondoso. Para o Português o coração é a medida de todas as coisas.
Na história e literatura portuguesa também temos a presença deste sentimento de amor forte: basta relembrar a grande paixão de D. Pedro por D. Inês de Castro, que nem a morte conseguiu extinguir e que ainda hoje serve de motivo poético.
Na literatura basta lembrar a lírica de Camões, esse grande poeta, que nos dá exemplos da mais bela e mais repassada emoção.
Quanto à discrição física dos portugueses, antes eram morenos, de estatura baixa, sorridentes…hoje somos menos sorridentes (devido à crise financeira que atravessámos), somos morenos, louros, ruivos, mulatos, asiáticos…somos uma mistura de muitas nacionalidades que por cá se instalaram, casaram com portugueses e tiveram filhos.
Lá fora os outros associam Portugal a um país de férias, de calor. Palavras como mar, sol, calor, férias, festas e praia são referenciadas com muita frequência. Também nos associam ao Futebol e o nome de Figo e Cristiano Ronaldo são bastante nomeados.
Também somos conhecidos pelo Fado, atualmente Património Imaterial da Humanidade, assim como pelo nosso Vinho do Porto (“Oporto”), embora lá fora ainda muitos pensem que é um produto inglês, principalmente nos Estados Unidos da América.
Também somos vistos como um povo que gosta de comer e beber bem. Associam-nos muito ao bacalhau e à sardinha.
Um ponto negativo que também nos caracteriza: a falta de pontualidade!!! Considerada uma falta de respeito para certas nacionalidades. No entanto não o fazemos por falta de respeito, aliás de um modo geral o povo português é respeitador e privilegia muito este valor. Digamos antes que chegar tarde, já nos vai no sangue…
Neste aspecto os franceses são pontuais e gostam muito da pontualidade nos outros. Neste ponto um trabalhador português em França terá de se adaptar rapidamente e cumprir os seus horários se quer preservar o seu emprego ( no nosso país também…).
Relativamente aos franceses, sendo umas pessoas menos acolhedoras que nós, são muito mais românticas que nós. Aliás a França é objecto de todo um imaginário romântico em torno da sua tradição artística e intelectual, da riqueza do seu património arquitetónico e da diversidade das suas paisagens resplandecentes. Cada país tem a sua especificidade.
Poderíamos também afirmar que a gastronomia francesa faz parte do património nacional. A gastronomia é, com efeito, uma das maiores referências de França no mundo. Delícias como o foie gras, as quiches, os crepes ou o camembert… são produtos franceses que se expandiram por todo o mundo.
Dependendo da cultura, podemos concluir que não existe cultura sem tradição. Pois esta institui uma relação entre o passado - a tradição, na medida em que nela se inscrevem actos culturais que ilustram as diferentes possibilidades do homem - e o presente, que num diálogo com essas produções é capaz de criar outras formas, outros modos de estar no mundo.
Podemos, então, admitir que não há cultura verdadeira sem uma atenção à tradição para a compreensão do presente e construção do futuro.» (http://oquemevainacabecaagora.blogspot.com/2012/03/cultura-portuguesa-versus-cultura.html
Concluiria afirmando que se trata de um excelente artigo que revela, afinal, que ainda há pessoas que se preocupam com o nosso património nacional e, também, mundial, em todas as suas dimensões: cultural, turística, religiosa, monumental, arquitetónica, histórica, enfim, ecuménica. Realizou um trabalho que, do meu ponto de vista, é bem merecedor de enquadramento num capítulo de uma tese de doutoramento.
São trabalhos desta natureza que prestigiam a nossa investigação científica e que deveriam merecer mais atenção dos responsáveis pelas instituições: sejam governantes, professores ou a comunidade em geral. Continue com este esforço e conte comigo para o pouco que lhe poderei dar nesta matéria, mas gostaria imenso de para partilhar dos seus sucessos. Parabéns por um artigo de altíssimo nível científico. A comunidade científica portuguesa está em dívida para consigo.
Bibliografia
FERNANDES, Cecília Manuela Gil C., (2012), Cultura Portuguesa versus Cultura Francesa, in: http://oquemevainacabecaagora.blogspot.com/2012/03/cultura-portuguesa-versus-cultura.html
“NÃO, ao ímpeto das armas; SIM, ao diálogo criativo/construtivo. Caminho para a PAZ”
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=924397914665568&id=462386200866744
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
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