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ASSUMIR OS ERROS COM DIGNIDADE E HUMILDADE




Na atividade política, é relativamente fácil, ao cidadão político-profissional, eximir-se às suas responsabilidades, defraudar os eleitores e, logo a seguir, aqui sim, com toda a “competência” (?) e a mais insinuante demagogia, conseguir ser novamente eleito. O povo anónimo é generoso, tolerante e honesto, por isso vai acreditando e dando o seu voto, pelo menos até esgotar as oportunidades que entende conceder ao candidato incumpridor.

Eximir-se à boa prática de uma ética da responsabilidade política, é um erro que alguns talvez pratiquem, ainda que sem terem a consciência da gravidade desse equívoco, portanto sem dolo. Naturalmente que sendo um erro: de formação, de circunstância, de análise, de estratégia, de hierarquia de valores, ou de qualquer outra natureza, é sempre possível, pelo menos, tentar corrigi-lo, dar-lhe a dimensão adequada, sem o recurso à extrapolação, à descontextualização e à crucifixação da pessoa que errou, até porque: “só não erra quem nada faz”, ou melhor, afinal, estes, também erram, pela simples circunstância de “nada quererem fazer”.

Seja o erro intencional, ou não, sejam quais forem as consequências, a verdade é que o erro não poderá ser o paradigma da conduta humana, mas antes o seu contrário, isto é, o acertar, este sim, é próprio da pessoa proceder bem, com ajuste, com intencionalidade de produzir os melhores resultados: para o próprio, e para o todo; para o indivíduo, e para a coletividade.

A ética da responsabilidade política sugere, então, uma conduta digna e proporcional: entre as decisões que devem ser tomadas e as circunstâncias resultantes daquelas. Uma decisão que envolva o autoafastamento da pessoa de determinados projetos, objetivos, funções e cargos, deve ser tomada com humildade, sem vergonha, nem falsa modéstia. A conduta corajosa será, então, muito mais apreciada, valorizada e, a curto ou médio prazos, eventualmente, recompensada.

Ignorar os sentimentos, abandonar aqueles que acreditaram na pessoa, nos seus projetos e objetivos, trocando por outras funções, antes de reparar os prejuízos, morais e materiais, que causou à instituição que representava, e aos cidadãos que nele confiaram, constitui um erro grave, que se manterá como tal, como sinónimo de uma conduta inadequada.

Ainda assim, o dever de respeito para com aqueles que estiveram na origem da eleição de um determinado candidato, para um cargo bem definido, impõe que sejam prestados todos os esclarecimentos e, na medida do possível, quando as condições o permitem, questionar esse eleitorado, através de um instrumento legal, se concorda, ou não, com o abandono do cargo para que tinha sido eleito, a fim de ocupar outro, na localidade, no país ou mesmo a nível internacional.

Em princípio, e quando situações daquela natureza se colocam, deve-se evitar a absolutização dos factos como, igualmente, se deve ter o maior cuidado na formulação de juízos de valor, da promoção de processos de intenção, porque então, aqui sim, os deveres subjacentes a uma ética da responsabilidade, podem ser violados.

A ética da responsabilidade não pode ser exigida apenas num sentido. Todos serão chamados ao seu cumprimento, para que a sociedade funcione com harmonia, confiança, compreensão e tolerância. Uma sociedade ética que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, assume, dignamente, as responsabilidades que lhe cabem.


Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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