BUSCANDO UM SENTIDO PARA A VIDA
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domingo, 10 de novembro de 2024
A questão do sentido para a vida coloca-se desde há mais de vinte e cinco séculos. Responder a esta e a outras interrogações, nomeadamente, sobre a origem, destino e fim da vida, isto é: “De onde vimos. Quem somos e para onde vamos?”. Será, porventura, o maior estímulo para que o ser humano continue a investigação e utilize todos os recursos ao seu alcance, para tentar aproximar-se das respostas tão verdadeiras quanto possíveis, àquelas perguntas.
O mistério da vida, e também da morte, seja do espírito, da mente, da consciência, da alma, na perspectiva metafísica, que envolve a dimensão imaterial do ser humano, tem vindo a alimentar a imaginação, a criatividade, a investigação, as experiências e as tecnologias.
É certo que as ciências biomédicas, concretamente: neurologia, genética, biologia e medicina, entre outras, têm conseguido avanços e resultados espetaculares, porém, parece estarem longe da descoberta sobre o conhecimento da totalidade do ser humano, da pessoa na sua integralidade, constituída por parte física e por parte imaterial.
Entretanto, importa refletir acerca do melhor aproveitamento da vida, quer no seu aspeto físico, quer quanto às faculdades mentais e, muito particularmente, no que concerne à atividade ético-moral, sob o controle da consciência, enquanto tribunal verdadeiro e justo, dos atos que cada indivíduo vai praticando, ao longo da vida, e que poderá ajudar, precisamente, a encontrar e esclarecer um sentido para a vida.
Antes, porém, interessará tentar saber o que cada pessoa, perante si própria é: como se avalia, como poderá melhorar, ou pelo menos, minimizar os aspetos considerados negativos, face ao conjunto de valores, princípios, normas sociojurídicas, tradições, usos e costumes da comunidade onde se integra? A milenar máxima socrática: “conhece-te a ti próprio”, nunca terá estado tão atualizada como nestes tempos de incertezas, de dificuldades, de algum “sem-sentido” para a vida.
Cada pessoa será, portanto, responsável: em primeiro lugar, pela busca e esforço em conhecer-se realmente a si própria; depois, pela elaboração das estratégias, métodos e recursos que lhe permitam elaborar o seu projeto de vida, que esclarecerá, de forma mais objetiva, qual o sentido que deseja dar à sua vida, aqui em duas vertentes: sentido material; sentido metafísico.
Admita-se, portanto, o que pensam alguns autores: «As verdadeiras oportunidades de conquistar um sentido para a vida encontram-se dentro de nós mesmos, e não em uma profissão ou situação determinada, e podem ser conquistados se reconhecermos que a melhor maneira para chegar ao topo é chegando primeiro ao fundo das coisas. (…) O que se encontra atrás de nós e o que se acha diante de nós tem pouca importância em comparação com o que está dentro de nós.» (POLE, 1998:12; apud, Ralph Waldo Emerson).
Na perspetiva de algumas mentes, poderia considerar-se utópico se apenas se reconhecesse a vertente espiritual ou metafísica, porque o ser humano, tal como qualquer outro animal, ou vegetal, carece de recursos para viver fisicamente.
Tentar, por exemplo, encontrar a felicidade, qualquer que seja o seu conceito, desenvolvendo sentimentos, os mais nobres e altruístas, que se revelem dentro de cada um, para com eles viver biologicamente e conjugar as duas vertentes, material e espiritual, é essencial à vida e, provavelmente, assim se pode pensar, agir e obter resultados que deem sentido a uma vida, verdadeiramente digna da superior condição do ser humano.
O sentido que cada um pretende dar à sua própria vida, implica: conhecimento, saber o que se quer da vida, da sociedade e do mundo. Viver torna-se, assim, uma verdadeira profissão, uma arte, na perspectiva de uma vida digna, confortável em todos os aspetos essenciais e possíveis.
Pelo contrário, levar uma vida de miséria material, caraterizada por situações desumanas: fome, doença e habitação, sem um mínimo de condições de higiene, segurança, conforto e privacidade; dificuldade no acesso à educação; desemprego, ainda que, alegadamente, se invoque uma qualquer forma de felicidade, será digno da pessoa humana?
Viver no século XXI, em qualquer parte do mundo, nas condições minimamente exigíveis, onde: o sentido que cada pessoa pretende dar à sua própria vida, não será compatível com os valores da dignidade, da felicidade, esta aqui considerada como um sentimento real de bem-estar geral, da igualdade, da fraternidade e da solidariedade. É certo que muitas pessoas não têm tido a capacidade, a compreensão, a ajuda, a sorte, para quem acredita nesta variável, para usufruírem de uma vida digna.
Urge despertar o mundo e as consciências, através dos diversos e inúmeros responsáveis: da política à religião; da economia ao empresariado; das instituições e outras formas organizacionais da sociedade, também pelo esforço de cada um, para esta nova profissão – VIVER – considerando, inclusivamente, as desigualdades que se verificam por todo o mundo.
Com efeito: «A maioria das pessoas que vive nos países desenvolvidos só há relativamente pouco tempo pôde dar-se ao luxo de reflectir sobre a arte de viver.
Os nossos antepassados estavam demasiado ocupados com a luta diária pela sobrevivência. Esse era o seu objectivo de vida, tal como ainda o é para uma grande parte da população mundial. Em primeiro lugar precisamos de comida e água. De seguida precisamos de protecção contra os predadores e contra as outras pessoas. Depois precisamos de sentir que pertencemos a um grupo. E a partir desse momento precisamos de nos sentir valorizados por ele. Só podemos pensar em nós e na nossa realização pessoal quando estas necessidades estiverem satisfeitas.» (GREENER, 2004:71).
Idealizar e implementar um sentido para a vida passa, justamente, pela satisfação de todas aquelas e, eventualmente, de outras necessidades, o que envolve um grande domínio de conhecimentos, de práticas e disponibilidades, tanto mais diversificados, como também específicos. Viver nestes novos tempos, repletos de solicitações, de exigências, que vão para além daquelas necessidades, que entram na vida quotidiana dos indivíduos, por força de poderosos meios publicitários, constitui um desafio para cada pessoa, e para a humanidade em geral.
Pensar, exclusivamente, na dimensão espiritual e prepará-la para uma vida eterna, certamente é muito importante, principalmente na perspetiva dos que acreditam numa outra vida, liberta da materialidade terrena, todavia, a pessoa crente, poderá preparar-se melhor para essa outra existência extraterrestre, se cuidar bem da sua parte física, corporal, até porque num corpo são as possibilidades de uma mente sã são muito maiores, logo, os resultados cognitivos serão beneficiados. Descuidar o conforto material da saúde e do corpo, poderá ser contraditório com o sentido último da vida, que os crentes numa realidade eterna pretendem viver.
Este novo século, iniciado há mais de vinte e três anos, herdou do século anterior, alguns conflitos, qual deles o mais grave: pandemias, guerras fratricidas a nível regional com milhares de mortes feridos; miséria em diversas situações – analfabetismo, desnutrição, desemprego, desigualdades crescentes entre pessoas, povos e nações, exclusão social, degradação do meio ambiente natural, entre outras.
O homem não tem sido capaz, seja por omissão, seja por intencionalidades veladamente inconfessáveis, de resolver aquelas situações degradantes, com a circunstância de que, numa determinada perspectiva: «O mundo actual apresenta-se simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo.» (CONCÍLIO VATICANO II, 1966:13).
Apesar de tantas dificuldades, situações complexas e de algumas questões que, estas sim, muito dificilmente serão respondidas, ainda assim, existem condições para vencer a maior parte das atuais crises, de resolver muitos problemas: uns, de ordem material; outros, da responsabilidade direta do homem, continuam a atormentar a humanidade. A busca do sentido para a vida, passa, necessariamente, pela procura incessante da normalização das melhores condições de existência, igualmente para todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas nacionalidades, estatutos e objetivos.
A capacidade imaginativa e criadora do homem é um bem que, provavelmente, nenhum outro ser possui.
Existem, portanto, boas razões para um otimismo moderado, no sentido em que a humanidade saberá ultrapassar todas as dificuldades, crises, obstáculos e situações mais imprevisíveis e delicadas. Uma das faculdades humanas, estará consubstanciada, por exemplo, na fé, não apenas no seu sentido religioso, mas enquanto esperança em tempos melhores, isto é, a fé na determinação em resolver os problemas, por mais difíceis que, aparentemente, possam parecer.
Na verdade: «A ausência de fé impede que muita gente consiga qualquer realização significativa em suas vidas.
A fé, enquanto energia positiva, traz para a realidade física aquilo de que temos esperança mas que ainda permanecia invisível. Nesse contexto, é útil lembrar que o verdadeiro significado da palavra esperança não é o de um desejo vago e indefinido, mas sim de uma alegre expectativa.» (POLE, 1998:92-93).
É com base nas superiores faculdades da pessoa humana, que se pode acreditar num futuro melhor, que passa, naturalmente, por cada um ter condições materiais para dar um sentido à sua própria vida, adotando, para o efeito, comportamentos: produtivo, em ordem à satisfação das necessidades de todos; ético-moral, assente nos valores, não só os dos tempos modernos, como também os de todos os tempos, ainda que seja necessário reinterpretá-los, readaptá-los para os assumir corretamente em novos contextos.
Negar ao homem as possibilidades de exercer os seus direitos e cumprir com os seus de deveres, corresponde a inviabilizar o seu projeto de vida, equivale a negar-lhe a oportunidade de dar sentido à sua vida, mesmo que tal sentido seja apenas ao nível da espiritualidade.
Qualquer que seja o conceito de “Sentido para a Vida”, afigura-se pertinente dar um voto de confiança ao homem, quer enquanto pessoa individualizada, como também a todos os grupos que, responsavelmente, estão empenhados na construção de um novo e melhor mundo, para uma humanidade sedenta de paz, de bem-estar, de segurança, de estabilidade e de projetos objetivos e exequíveis para a vida.
Esse novo e melhor mundo, cuja construção se pretende estimular, deverá contemplar, no seu desenvolvimento, não só a espiritualidade, como também toda a materialidade possível, para concretização das ambições e sonhos da pessoa. Na verdade: «Você é compelido o tempo todo a conquistar cada vez mais – mais dinheiro, mais poder, mais felicidade, mais sucesso.» (Ibid: contracapa).
Bibliografia
CONCÍLIO VATICANO II (1966). Gaudium et Spes. Constituição Pastoral o Concílio Vaticano II sobre a Igreja no Mundo de Hoje. II Edição. São Paulo: Edições Paulinas
GREENER, Mark, (2004). Tempo para Tudo. Organização e Gestão Pessoal. Tradução Alexandra Lemos, revisão e adaptação técnica: Osvaldo Santos, psicoterapeuta, 1ª edição portuguesa, Dezembro/2004, Lisboa: Edideco, Editores para a Defesa do Consumidor.
POLE, Timothy, (1998). Ser Você. Tradução Arlete Dialetachi. São Paulo: Editora Angra, Ltda.
SELECÇÃO DE TEXTOS (2000). “Educação em Matéria de Direitos Humanos”, in Noesis. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional – Ministério da Educação, (56), Outubro-Dezembro-2000, pp.18-21
“NÃO, à violência das armas; SIM, ao diálogo criativo. As Regras, são simples, para se obter a PAZ”
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