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Mercados: A Lâmpada de Aladino



Quando nos debruçamos sobre a situação económico-financeira, há setores de atividade que, invariavelmente, são “diabolizados” ou “santificados”, invocando-se uma ou outra adjetivação, conforme convém às circunstâncias do momento, e/ou aos interesses dos mais diretos intervenientes e responsáveis neste caminhar, quase sempre incerto e inseguro, apesar de, em outros períodos: uns, declararem que tudo vai bem e a evoluir favoravelmente; outros, afirmando o contrário e alguns a manifestarem grande ceticismo.
Importa, no entanto, referir que, atualmente, parece que tudo funciona à volta dos mercados e até se afirma, com alguma frequência, que quando os mercados estão muito “nervosos”, provocam o agravamento das crises ou, pelo contrário, se estão “calmos”, uma satisfatória distensão e, em coerência, uma melhoria das economias nacionais e internacionais.
Naturalmente que se torna um lugar comum relacionar mercados e dinheiro. É essencial aceitar que estas duas componentes, da vida económico-financeira, são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, salvaguardando-se, sempre, as tentações e práticas especulativas e a ganância pelo nobre (há quem diga “vil”) metal, porque: «Num mundo em que se fala muito de direitos, quantas vezes é verdadeiramente espezinhada a dignidade humana! Num mundo onde se falta tanto de direitos, parece que o único que os tem é o dinheiro.» (PAPA FRANCISCO, 2016:74).
O dinheiro, como um instrumento de troca, seja na sua forma atual de moeda ou papel, seja noutros materiais, como há milhares de anos, a verdade é que ele é necessário na maioria das transações e, mesmo que não seja direta e fisicamente utilizado, ele, nas suas diversas moedas nacionais, está sempre presente, inclusive em avaliações que seja preciso fazer entre um bem que se pretende adquirir, a troco de outro bem.
É evidente que, atualmente, ninguém poderá ignorar a importância do dinheiro, o que não significa que se tenha de ser escravo dele, e/ou que, por causa dele, se atropelem outros direitos e interesses, especulando-se, até, contra a dignidade da pessoa humana. Tudo deve ter um limite e, acima do dinheiro, há muitos outros princípios, valores e sentimentos., que são inegociáveis.
O dinheiro é, portanto, um bem precioso que, genericamente, todas as pessoas gostariam de possuir, em abundância, para com ele obterem uma excelente qualidade de vida, porque em bom rigor: «Os vários e graves desafios económicos e políticos que o mundo contemporâneo enfrenta exigem uma corajosa mudança de atitudes, que restitua ao fim (a pessoa humana) e aos meios (a economia e a política) o lugar que lhes é próprio. O dinheiro e os outros instrumentos políticos e económicos devem servir, e não governar, tendo presente que a solidariedade gratuita e abnegada é, de maneira aparentemente paradoxal, a chave do bom funcionamento económico global.» (Ibid.:79-80).
Mercados, economia e dinheiro, constituem o tripé, eventualmente entre outros, tais como a saúde, educação e formação, para que se possa viver numa sociedade: mais desenvolvida, mais justa e sustentável, obviamente, desde que os interventores humanos saibam moderar os seus “instintos” egoístas, a ganância por terem cada vez mais, à custa dos que têm cada vez menos e que, infelizmente, em qualquer parte do mundo, são a maioria, independentemente das razões que assistem a uns e a outros.
A economia, analisada por um leigo, pode-se entender a partir de uma ideia muito simples: é a diferença entre o que se produz e o que se consome, mas esta ideia popular, não passa disso mesmo. Então, deve-se recorrer ao conceito científico. Assim: «Etimologicamente a palavra economia pode ser entendida como as regras usadas para a administração do lar ou da casa. Contudo, hoje, Economia é uma ciência muito importante e complexa que trata de estudar como se dão o consumo, produção, acumulação, extração e distribuição de bens e serviços na sociedade. O termo também tem um sentido popular que é sinônimo de poupar, ou seja, quando alguém trata de controlar seus gastos evitando desperdício de dinheiro, dizemos que a pessoa está fazendo economia.» (in: https://www.significadosbr.com.br/economia
Entendido assim o conceito científico, é fundamental que todas as pessoas, por si próprias, e/ou por quem está ao seu serviço, produzam em quantidade, qualidade, preço e em tempo, e gastem o que lhe é estritamente necessário, no âmbito de um nível e padrão de vida compatíveis com a dignidade da pessoa humana, todavia, evitando comportamentos perdulários.
Sem quaisquer relutâncias, podemos estar de cordo que: «Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar de uma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de atividade e ter acesso a uma digna reforma de velhice. É uma economia onde o ser humano em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social.» (PAPA FRANCISCO, 2016.:82).
A pessoa humana não pode, em nenhuma circunstância, ser utilizada como se de um objeto, um instrumento, ou uma máquina se tratasse, contudo, sem se cair num exagerado antropocentrismo, a verdade é que, e para além da possível existência de uma Entidade que lhe é superior, tudo o mais, deve funcionar a partir da estrutura racional, técnica e científica do ser humano que, por enquanto, tem poderes terrestres como nenhuma outra criatura.
Portanto, ao nível da pessoa humana, a todas assistem os mesmos deveres e direitos, pelo que: mercado, economia e dinheiro, teriam de estar ao seu serviço e, nesse sentido, a partilha das riquezas naturais, pelo menos estas, deve ser reta, imparcial e atempada, já que a riqueza produzida, em princípio, e não escandalizará quem estiver de boa-fé, e for justo, deve ser atribuída conforme o mérito de cada pessoa que contribui para o resultado final, isto é, para o bem comum, em benefício do bem-estar geral.
Em todo o caso, e se for possível uma partilha justa de todos os bens, isso seria o ideal porque: «A justa distribuição dos frutos do trabalho humano não é uma mera filantropia. É um dever moral. (…) Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama.» (Ibid.:83).
E se os mercados funcionam qual “Lâmpada de Aladino”, qual génio todo poderoso, em que o seu desejo é uma ordem, que tudo gira à sua volta, por vezes de forma desumana, profunda e inaceitavelmente especulativa, a economia, pela importância que tem: seja ao nível individual; no contexto de uma família; no quadro de uma empresa; no espaço mais alargado de um país; ou, finalmente, no âmbito global, deve criar as condições de equilíbrio, proteção e progresso, se possível, em congregação com os mercados, se tal não for viável, então deve orientar-se por estratégias de desenvolvimento de uma determinada comunidade.
Com efeito: «A finalidade da economia e da política é sempre a humanidade, a começar pelos mais pobres e mais vulneráveis, onde quer que se encontrem, mesmo que seja no ventre da própria mãe. Cada teoria ou decisão económica e política deve procurar oferecer a cada habitante da terra aquele bem-estar mínimo que lhe permita viver dignamente, na liberdade, com a possibilidade de sustentar uma família, de educar os seus filhos, de louvar a Deus e de desenvolver as próprias capacidades humanas. Isto é fundamental!! Sem esta visão, nenhuma atividade económica tem significado.» (Ibid.:79).
Os três elementos, entre outros, igualmente essenciais, que movimentam, atualmente: pessoas, famílias, instituições e nações, na verdade são: a economia, os mercados e o dinheiro, e não devemos diabolizar estes três grandes componentes, à volta dos quais: quer se queira, ou não; quer se goste, ou não, o mundo vai girando, e não vale a pena pensarmos que tudo se altera da noite para o dia, temos de ser realistas, otimistas e perceber que, apesar das dificuldades, é sempre possível melhorar.
E mesmo que se concorde que: «A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa-comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos.» (Ibid.:81), a verdade é que, por enquanto, assim vai funcionando o mundo: os pobres cada vez mais pobres; os ricos cada vez mais ricos, claro que não se coloca em causa o mérito de quem enriquece, justamente, à custa de uma economia própria saudável e sustentável.

Bibliografia.

PAPA FRANCISCO (2016). Proteger a Criação. Reflexões sobre o Estado do Mundo. 1ª Edição. Tradução Libreria Editrice Vaticana (texto) e Maria do Rosário de Castro Pernas (Introdução e Cronologia), Amadora-Portugal:20/20 Nascente Editora.

Gratidão. «Proteja-se. Vamos vencer o vírus. Cuide de si. Cuide de todos». Aclamemos a vida com esperança, fé, amor e felicidade. Estamos todos de passagem e no mesmo barco. Tenhamos a humildade de nos perdoar-nos uns aos outros. Alimentemos o nosso espírito com a oração e a bela música.


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Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
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